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Brasil

Publicada em 09/07/23 às 15:50h - 116 visualizações
BOLSONARO, NANICO MORAL E POLÍTICO

Estadão

Sempre houve especulações sobre o real tamanho que Jair Bolsonaro teria na vida nacional após deixar a Presidência da República. O tema ganhou novo destaque após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o tornou inelegível por oito anos. Qual será de fato o papel do ex-presidente na política brasileira? Sem poder se candidatar, qual será sua influência na vida nacional?

Nesta semana, o assunto saiu do campo da especulação e pôde ser observado na realidade. No dia 4 de julho, Jair Bolsonaro lançou um manifesto contra a reforma tributária em tramitação na Câmara, qualificando-a de “verdadeiro soco no estômago dos mais pobres”. O ex-presidente conclamou os deputados do seu partido, o PL, “pela rejeição total da PEC da reforma tributária”.

Em tese, era de esperar que um posicionamento tão incisivo, vindo de alguém que obteve 58 milhões de votos no segundo turno das eleições do ano passado, despertasse alguma comoção e representasse algum empecilho à tramitação da reforma tributária. A voz do autoproclamado grande líder da direita nacional – que se apresenta como representante do liberalismo e dos interesses do empresariado – deveria produzir alguma consequência sobre tema tão fundamental para o desenvolvimento social e econômico do País. No entanto, a oposição de Jair Bolsonaro à reforma tributária não gerou rigorosamente nenhum efeito. Nem no seu partido nem também naquele que é considerado um dos principais sucessores do bolsonarismo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Ainda que seja paradoxal, tendo em vista o cargo que Jair Bolsonaro ocupou até o fim do ano passado, a nulidade do manifesto bolsonarista contra a reforma tributária não deve, a rigor, surpreender ninguém. Ela expõe a exata dimensão da figura de Bolsonaro na vida nacional. Está em plena conformidade com suas quase três décadas de completa irrelevância como deputado federal.

Em 2018, diversos grupos sociais e políticos apoiaram a candidatura de Jair Bolsonaro. Mas esse apoio, como agora uma vez mais se comprova, foi meramente circunstancial. Bolsonaro nunca foi capaz de articular politicamente setores e grupos da sociedade. Basta ver sua trajetória de trocas contínuas de legendas e o fracasso, mesmo estando na Presidência da República, na hora de criar seu próprio partido. Uma coisa é organizar motociatas ou ter muitos seguidores (e robôs) nas redes sociais. Outra, bem diferente, é exercer uma efetiva liderança política, congregando interesses por meio de ações políticas coordenadas.

Com a publicação do manifesto bolsonarista contra a reforma, maliciosa e falsamente chamada no texto de “reforma tributária do PT”, era nítida a pretensão de Jair Bolsonaro de se recolocar como a grande liderança antipetista. Eis sua estatura moral. Na tentativa de alavancar popularidade, não teve pudor de opor-se integralmente à proposta, fruto de anos de trabalho legislativo, que busca superar um dos grandes entraves nacionais. O resultado da manobra foi, no entanto, um grande fiasco. Ninguém fez caso da sua opinião.

Evidencia-se aqui outro aspecto da pequenez de Jair Bolsonaro. Não é mera ausência de capacidade de articulação política. Diante de um cenário nacional de debate longamente amadurecido sobre o sistema tributário, seu manifesto pela “rejeição total” da reforma explicitou que Bolsonaro não tem nada a propor ao País. Seu discurso é feito exclusivamente de chavões e de desinformação. Não tem diagnóstico, não tem proposta, não tem argumento. Ou seja, a indiferença ao tal manifesto, tanto por parte dos agentes políticos como pelos vários setores da sociedade envolvidos diretamente na discussão da reforma, era mais que natural. Não havia nenhum motivo para alguém gastar tempo com tão evidente disparate.

Se é triste constatar a diminuta dimensão moral e política de quem ocupou a Presidência da República por quatro anos, é alvissareiro reconhecer que Jair Bolsonaro volta a ter agora o exato peso que sempre mereceu ter. A mais cabal e rigorosa irrelevância.

Estadão 




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